segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O poeta lutador




Rabisco esta poesia sem me exultar
Com meu coração cansado e fragueiro
Que enfim se rendeu a literatura,
A face por inteiro.

Meus momentos de amor
Que a poesia dediquei
Minha luta; percebo que falhei.

Meu cavalo branco, meu escudo de bronze
Minha espada brilhante de minhas mãos escorreu.
Os heróis, os poetas
Morreram de solidão
E vocês não têm mais a quem perseguir.

O poeta não o espere
Ele está morto
Não nascerá mais,
Não mais fará poesia

Para um mundo não renovável.


Lima de Vasconcelos

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Ao sinal do semáforo




Um homem cruzou a rua
Olhou timidamente de um lado para o outro
E simplesmente cruzou a rua
Lento como a noite apenas cruzou a rua
Buscou em seu bolso, ou em si mesmo, um cigarro
Acendeu-o calmamente
Calmamente o fumou.
Calmamente cruzou a rua
Do outro lado nada o esperava
Apenas cruzou a rua
Apenas cruzou a rua
Apenas cruzou a rua
Cruzou a rua
A rua 


Lima de Vasconcelos

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Acéfalomania


Quadro gigante acefalo Max Ernest


A rua está cheia de notícias
É preciso lê-las, é preciso ouvi-las.

As roupas estão cheias de mensagens
É preciso obedecê-las é preciso segui-las.

A moda está cheia de tendências
É preciso abandonar a mim mesmo
É preciso abandonar meu orgulho,
E render-me ao aniquilamento por completo
Pois, é preciso segui-la.

As músicas estão cheias de frases desconexas
É preciso ouvi-las, é preciso cantá-las.

É preciso!

É preciso!

Eu preciso, preciso bem mais que preciso sim
Pois preciso! E preciso
Não ser dono de mim.

Lima de Vasconcelos

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O Leilão


A vida é dura,
E o pão é duro para os dentes abstratos
Mas “eles” lhes darão próteses
Para morder os ossos do futuro.
A fome é grande
A corrupção é maior
E a necessidade apaga qualquer senso crítico.

O pão é duro
A vida é dura
E os olhos são cegos
Mas “eles” lhes darão óculos para verem o mundo
E não a realidade

A política é suja
O mundo uma ameaça
Mas a festa e a cachaça
          É toda de graça.
“eles” alimentam os vícios
E não alimentam a fome.
O feijão está caro
Mas a cerveja está em promoção,
E o voto senhores, está em pauta no leilão.


Lima de Vasconcelos

domingo, 22 de abril de 2012

O caminho da escola


(Poema publicado pela revista Derepente em setembro de 2011)

Sigo pela manhã vaga
Pela nevoa cinzenta
Me vendo sumir pela distancia
Pelo caminho de sapé
Entre arvores e pardais,

Vejo o pálido menino
Sumir no caminho da escola
E aparecer em minha face.

O menino de olhos verdes é sozinho
Pouco fala, pouco conversa
E quase ninguém o percebe.

O menino de olhos verdes
Sempre anda correndo
Sempre anda com medo

E poucos sabem, nem mesmo ele
Que um dia sua história todos conhecerão.


Lima de Vasconcelos

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Chuva no sertão é inverno!




Amanhece em névoa
O inverno frio
Ao cantar dos pássaros
Ao florir das flores
Ao bocejar dos galhos
Ao despertar das cores
O dia
A aurora
A poesia                                                                        
Ao canto do sabiá
            Ao canto do bem-te-vi
                        Ao canto do sertão onde nasci

Chuva na roça
            Chuva na palhoça
                        Água nas nascentes
                                   Água nas vertentes.

Ao cantar do galo
            Ao turvar da manhã
                        Todos no roçado
                                   É dia de plantação.

Lima de Vasconcelos

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A velhice


Às vezes quando me olho, pouco me vejo
Vejo apenas essa imagem, a quem chamo eu
Ou a quem penso que sou.

Às vezes quando me olho, me desconheço
Com essas rugas que se desenham em meu rosto
Com essa névoa que cobre meu cabelo
Com esse sorriso que se empalidece em meu abraço.

Minhas mãos que antes apertavam
Agora só fazem cócegas.
Sonhos já não tenho mais,
Já me sinto infelizmente irrealizado.

Mas que tipo de pessoas chata sou eu
Que fica reclamando de tudo,
Afinal de um garoto rebelde
Faz-se um velho ranzinza.


Lima de Vasconcelos